quarta-feira, 24 de agosto de 2011

"Se o diabo inventou um inferno na terra, esse inferno é o crack"

Considerada a pior das drogas, pedra tem feito um número cada vez maior de vítimas


Toda vez que um viciado em crack acende seu cachimbo assina uma nova sentença de morte. Com o poder de escravizar às primeiras tragadas, a pedra à base de cocaína arrasta o usuário à sarjeta em pouquíssimo tempo. A droga, que avança como uma praga pelo território gaúcho, faz mais vítimas do que qualquer outra porque afunda o dependente numa degradação física e psicológica que o empurra ao crime para saciar o vício devastador.

Conheça as histórias:Prostituição para comprar crack
Empresa virou fumaça
Recaída pela sexta vez 




O crack, assim denominado porque a pedra emite pequenos estalos quando queimada, leva fama de ser uma droga barata desde que seu consumo explodiu nas periferias brasileiras, nos anos 1990. Mas o baixo custo da pedra, em torno de R$ 5, é uma ilusão. Da mesma maneira que não se tem notícia de alguém que tenha experimentado crack uma única vez, um dependente não se satisfaz com uma pedra. Na fissura, o usuário fuma 20, 30 pedras ao dia. Para custear vício, primeiro se desfaz do que tem, depois parte para o crime.


— É comum encontrar todo tipo de material nos pontos de tráfico. Qualquer coisa serve como moeda de troca – revela o tenente-coronel Júlio César Marobin, comandante do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM), de Caxias.

— Num Natal, meu filho conseguiu trocar por crack até o peru da nossa ceia. Toda noite eu tinha que colocar o botijão de gás no meu quarto senão meu filho vendia por pedra – conta a caxiense Everly de Jesus Rodrigues, 45 anos, mãe de um garoto de 18 anos morto a tiros em consequência do vício, mês passado.

O drama que o crack leva para dentro das famílias não aparece nas estatísticas policiais, mas é gravíssimo. Nos últimos tempos, casos de mães que acorrentam seus filhos na tentativa de conter o vício têm aparecido com frequência na imprensa. Entretanto, a maioria das famílias silencia, por medo ou vergonha, enquanto dinheiro e objetos são levados de casa.

— O usuário não se penaliza com barbaridades que comete, com parentes ou desconhecidos, porque o crack anestesia o afeto — diz Maria Virgínia Agustini, coordenadora da política de saúde mental da Secretaria Municipal da Saúde.


— Se o diabo inventou um inferno na terra, esse inferno é o crack — ressalta Roberto Faleiro, coordenador da Casa de Passagem São Francisco.

Nenhum comentário:

Postar um comentário